PEIXES PREDADORES DO MEXILHÃO-DOURADO Limnoperna fortunei EM DIFERENTES AMBIENTES DE UM RIO SUBTROPICAL DA AMÉRICA DO SUL

Autores

  • Sunshine de Ávila-Simas Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (LAPAD), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) http://orcid.org/0000-0003-3901-4365
  • David Augusto Reynalte-Tataje Centro de Ciências Biológicas - Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS) http://orcid.org/0000-0002-9853-4830
  • Evoy Zaniboni-Filho Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (LAPAD), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

DOI:

https://doi.org/10.20950/1678-2305.2019.45.2.484

Palavras-chave:

alimentação de peixes, controle biológico, espécies invasoras, peixes neotropicais, potenciais predadores, rio Uruguai

Resumo

O presente estudo teve como objetivo avaliar se o mexilhão-dourado Limnoperna fortunei, identificado na região do alto rio Uruguai pela primeira vez em 2012, vem sendo incorporado na dieta da ictiofauna presente nos diferentes compartimentos de um reservatório neotropical. Para isto, foi analisado o trato digestório de peixes através de coletas sazonais realizadas entre agosto de 2015 e maio de 2016. Os resultados mostraram que 22 espécies de peixes apresentaram L. fortunei no trato digestório, sendo que o registro de consumo deste molusco era desconhecido para 11 delas. Além disso, foi possí­­vel observar que espécies das ordens Characiformes e Cichliformes foram as principais consumidoras de L. fortunei no ambiente lêntico, enquanto que nos ambientes lóticos e de transição (lótico/lêntico) os principais consumidores deste mesmo recurso foram espécies pertencentes a ordem Siluriformes. Quando avaliado o grau de digestão de L. fortunei encontrado no trato digestório dos peixes, foi observado que a maioria dos peixes consegue digerir esse recurso alimentar, entretanto, merece destaque o fato de que algumas espécies de Siluriformes encontram dificuldade em digerir esse molusco invasor. Diante dessas informações é possí­­vel concluir que a disponibilidade de L. fortunei no alto rio Uruguai vem proporcionando uma nova oferta de alimento para diferentes espécies de peixes, e que os consumidores variam de acordo com o compartimento do reservatório.

Referências

Agudo-Padrón, A.I. 2012. Two new freshwater mussel records from the Upper Uruguay River Basin Region in Santa Catarina State/SC, Central Southern Brazil. FCMS Newsletter Ellipsaria, 14(3): 21-24.

Avelar, W.E.P.; Martim, S.L.; Vianna, M.P. 2004. A new occurrence of Limnoperna fortunei (Dunker 1856) (Bivalvia, Mytilidae) in the State of São Paulo, Brazil. Brazilian Journal of Biology, 64(4): 739-742.

Barbosa, N. P.; Silva, F. A.; Oliveira, M. D.; Santos Neto, M. A.; Carvalho, M. D.; Cardoso, A.V. 2016. Limnoperna fortunei (Dunker, 1857)(Mollusca, Bivalvia, Mytilidae): first record in the São Francisco River basin, Brazil. Check List, 12(1): 1-6. http://dx.doi.org/10.15560/12.1.1846

Bartsch, M.R.; Bartsch, L.A.; Gutreuter, S. 2005. Strong effects of predation by fishes on an invasive macroinvertebrate in a large floodplain river. Journal of the North American Benthological Society, 24(1): 168-177.

Boltovskoy, D.; Karatayev, A.; Burlakova, L.; Cataldo, D.; Karatayev, V.; Sylvester, F.; Marinelarena, A. 2009. Significant ecosystem-wide effects of the swiftly spreading invasive freshwater bivalve Limnoperna fortunei. Hydrobiologia, 636(1): 271-284. http://dx.doi.org/10.1007/s10750-009-9956-9

Brejão, G.L.; Gerhard, P.; Zuanon, J. 2013. Functional trophic composition of the ichthyofauna of forest streams in eastern Brazilian Amazon. Neotropical Ichthyology, 11(2): 361-373. http://dx.doi.org/10.1590/S1679-62252013005000006

Brugnoli, E.; Clemente, J.; Boccardi, L.; Borthagaray, A.; Scarabino, F. 2005. Golden mussel Limnoperna fortunei (Bivalvia: Mytilidae) distribution in the main hydrographical basins of Uruguay: update and predictions. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 77(2): 235-244. http://dx.doi.org/10.1590/S0001-37652005000200004

Burress, E.D. 2016. Ecological diversification associated with the pharyngeal jaw diversity of Neotropical cichlid fishes. Journal of Animal Ecology, 85(1): 302-313. http://dx.doi.org/10.1111/1365-2656.12457

Cantanhêde, G.; Hahn, N.S.; Gubiani, E.A.; Fugi, R. 2008. Invasive molluscs in the diet of Pterodoras granulosus (Valenciennes, 1821) (Pisces, Doradidae) in the upper Parana River floodplain, Brazil. Ecology Freshwater Fish, (17): 47í 53. https://doi.org/10.1111/j.1600-0633.2007.00258.x

Cataldo, D. 2015. Trophic relationships of Limnoperna fortunei with adult fishes. In: Boltovskoy, D. (Ed.). Limnoperna fortunei: The Ecology, Distribution and Control of a Swiftly Spreading Invasive Fouling Mussel. Springer, Switzerland. p. 231-248.

Darrigran, G. 2002. Potential impact of filter-feeding invaders on temperate inland freshwater environments. Biological invasions, 4(1-2): 145-156. http://dx.doi.org/10.1023/A:1020521811416

Darrigran, G.; Damborenea, C. 2005. A South American bioinvasion case history: Limnoperna fortunei (Dunker, 1857), the golden mussel. American Malacological Bulletin, 20, 105-112.

Darrigran, G.; Mansur, M.C.D. 2009. Introdução e dispersão do Limnoperna fortunei. In: Darrigran, G.; Damborenea, C. (Eds.) Introdução a Biologia das Invasões. O Mexilhão Dourado na América do Sul: biologia, dispersão, impacto, prevenção e controle. Cubo Editora, São Carlos. p. 89-110.

Garcí­­a, M.L.; Protogino, L.C. 2005. Invasive freshwater molluscs are consumed by native fishes in South America. Journal of Applied Ichthyology, 21(1): 34-38. https://doi.org/10.1111/j.1439-0426.2004.00570.x

Gomiero, L.M.; Braga, F.M.S. 2008. Feeding habits of the ichthyofauna in a protected area in the state of São Paulo, southeastern Brazil. Biota Neotropica, 8(1): 41-47. http://dx.doi.org/10.1590/S1676-06032008000100004

Hermes-Silva, S.; Guereschi, R.M.; Craide, L.F.; Bez, M.F.; Costa, R. S.; Zaniboni-Filho, E.; Nuí­±er, A.P.O. 2008. Comunidades zooplanctônicas e bentônicas do Alto Rio Uruguai: caracterização da área de influência da Usina hidrelétrica Itá. In: Zaniboni-Filho, E.; Nuí­±er, A.P.O. (Eds.). Reservatório de Itá: Estudos ambientais, desenvolvimento de tecnologias de cultivo e conservação da ictiofauna. Editora da UFSC, Florianópolis. p. 109-126.

Karatayev, A.Y.; Burlakova, L.E.; Karatayev, V.A.; Boltovskoy, D. 2010. Limnoperna fortunei versus Dreissena polymorpha: population densities and benthic community impacts of two invasive freshwater bivalves. Journal of Shellfish Research, 29(4): 975-984. https://doi.org/10.2983/035.029.0432

Kawakami, E.; Vazzoler, G. 1980. Método gráfico e estimativa de í­­ndice alimentar aplicado no estudo de alimentação de peixes. Boletim do Instituto oceanográfico, 29(2): 205-207.

Lólis, A.A.; Andrian, I.F. 1996. Alimentação de Pimelodus maculatus Lacépí­¨de 1803 (Siluriformes, Pimelodidae), na planí­­cie de inundação do alto Rio Paraná, Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, 23(1): 23-28.

Lopes, M.; Vieira, J. 2012. Predadores potenciais para o controle do mexilhão-dourado. In: Mansur, M.C.D.; Santos, C.P.; Pereira, D.; Paz, I.C.P.; Zurita, M.L.L.; Rodriguez, M.T.R.; Nehrke, M.V.; Bergonci, P.E.A. (Eds.). Moluscos lí­­mnicos invasores no Brasil. Redes Editora, Porto Alegre. p. 357-363.

McCafferty, W.P. 1983. Aquatic entomology: the fishermen’s and ecologist’s illustrated guide to insects and their relatives. Boston, Jones and Barlett publishers, 448p.

McCune, B.; Grace, J.B. 2002. Analysis of ecological communities. Oregon: Mjm software design. 304p.

Novakowski, G.C.; Hahn, N.S.; Fugi, R. 2008. Diet seasonality and food overlap of the fish assemblage in a pantanal pond. Neotropical Ichthyology, 6(4): 567-576. http://dx.doi.org/10.1590/S1679-62252008000400004

Oliveira, C.R.C.; Fugi, R.; Brancalhão, K.P.; Agostinho, A.A. 2010. Fish as potential controllers of invasive mollusks in a neotropical reservoir. Natureza & Conservação, 8(2): 140-144. http://dx.doi.org/10.4322/natcon.00802006

Oliveira, M.D.; Takeda, A.M.; Barros, L.F.; Barbosa. D.S.; Resende, E.K. 2006. Invasion by Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) (Bivalvia, Mytilidae) of the Pantanal Wetland, Brazil. Biological Invasions, 8(1): 97-104. https://doi.org/10.1007/s10530-005-0331-0

Paolucci, E.M.; Cataldo, D.H.; Fuentes, C.M. Boltovskoy, D. 2007. Larvae of the invasive species Limnoperna fortunei (Bivalvia) in the diet of fish larvae in the Paraná River, Argentina. Hydrobiologia, 589(1): 219-233. https://doi.org/10.1007/s10750-007-0734-2

Pastorino, G.; Darrigran, G.A.; Lunaschi, L.; Martí­­n, S.M. 1993. Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) (Mytilidae), nuevo bivalvo invasor en aguas del Rí­­o de la Plata. Neotropica, 39(101-102): 34.

Petry, A.C.; Thomaz, S.M.; Esteves, F.A. 2011. Comunidade de peixes. In: Esteves, F.A. (Ed.). Fundamentos de limnologia. Interciência, Rio de Janeiro. p. 609-624.

Reynalte-Tataje, D.A.; Zaniboni-Filho, E. 2008. Biologia e identificação de ovos e larvas de peixes do alto rio Uruguai. In: Zaniboni-Filho, E.; Nuí­±er, A.P.O. (Eds.). Reservatório de Itá: estudos ambientais, desenvolvimento de tecnologias de cultivo e conservação da ictiofauna. Editora da UFSC, Florianópolis. p. 229-255.

Rosa, D.M.; Santos, G.B.; Gomes, P.L.; Campos, M.C.; Dias, J.H. 2015. Occurrence of Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) in the fish diet from a south‐eastern Brazilian reservoir. Journal Applied Ichthyology, 31: 188-191. doi:10.1111/jai.12623

Salvador Jr, L.F.; Salvador, G.N.; Santos, G.B. 2009. Morphology of the digestive tract and feeding habits of Loricaria lentiginosa Isbrücker, 1979 in a Brazilian reservoir. Acta Zoologica, 90(2): 101-109.

Santos, S.B.; Thiengo, S.C.; Fernandez, M.A.; Miyahira, I.C.; Gonçalves, I.B.; Ximenes, R.D.F.; Mansur, M.C.D.; Pereira, D. 2012. Espécies de moluscos lí­­mnicos invasores no Brasil. In: Mansur, M.C.D.; Santos, C.P.; Pereira, D.; Paz, I.C.P.; Zurita, M.L.L.; Rodriguez, M.T.R.; Nehrke, M.V.; Bergonci, P.E.A. (Eds.). Moluscos lí­­mnicos invasores no Brasil: biologia, prevenção e controle. Redes Editora, Porto Alegre. p. 25-50.

Schork, G.; E. Zaniboni-Filho. 2018. Influence of spatial gradient caused by a large dam on fish assemblage in a subtropical reservoir - Upper Uruguay River. Boletim do Instituto de Pesca, 44(2): 1-11.

Thorp, J.H.; Delong, M.D.; Casper, A.A.F. 1998. In situ experiments on predatory regulation of a bivalve mollusc (Dreissena polymorpha) in the Mississippi and Ohio Rivers. Freshwater Biology, 39(4): 649-661. https://doi.org/10.1046/j.1365-2427.1998.00313.x

Vazzoler, A.E.A.M. 1996. Biologia da reprodução de peixes teleósteos: teoria e prática. Maringá: Editora da UEM. 169p.

Zaniboni-Filho, E.; Meurer, S.; Shibatta, A.O.; Nuí­±er, A.P.O. 2004. Catálogo ilustrado de peixes do alto rio Uruguai. Florianópolis: Editora da UFSC. 128p.

Zaniboni-Filho, E.; Nuí­±er, A.P.O.; Reynalte-Tataje, D.A.; Hermes-Silva, S.; Meurer, S. 2008. Alterações espaciais e temporais da estrutura da comunidade de peixes em decorrência da implantação do reservatório de Itá (Alto rio Uruguai). In: Zaniboni-Filho, E.; Nuí­±er, A.P.O. (Eds.). Reservatório de Itá: Estudos ambientais, desenvolvimento de tecnologias de cultivo e conservação da ictiofauna. Editora da UFSC, Florianópolis. p. 21-48.

Downloads

Publicado

2019-04-03

Edição

Seção

Artigo cientí­fico