Abordagem etnoecológica da pesca e captura de espécies não-alvo em Itacaré, Bahia (Brasil)
Palavras-chave:
pesca artesanal, íÂrea Protegida Marinha, manejo, capturas incidentaisResumo
O objetivo deste estudo foi identificar as relações existentes entre a pesca marinha e captura de espécies não alvo que ocorrem na área proposta para Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Itacaré (Bahia, Brasil), destacando as incoerências entre a pesca e a Resex proposta, para que estas sejam modificadas durante a implementação desta Área Protegida Marinha (APM). Os dados foram coletados entre janeiro de 2004 e maio de 2006, através de entrevistas semiestruturadas e observações em campo, e analisados pelo modelo de união de diversas competências individuais. Foram entrevistados 46 pescadores, dos quais quatro (8,7%) exercem exclusivamente a pesca. As modalidades linha de fundo, rede de arrasto para captura de camarão, rede de arrasto de praia e rede de espera capturam, além das espécies-alvo, espéciesí não alvo, como Procelariidae (linha de fundo), Cheloniidae e Sotalia guianensis (rede de espera arrasto de praia), e espécimes imaturos de peixes e invertebrados (arrasto de camarão e arrasto de praia). Linha de corso e espinhel parecem capturar apenas espécies-alvo. Durante o período de estudo, um espécime de S. guianensis foi capturado na pesca de mergulho com arpão, no entanto, este petrecho parece capturar apenas espécies-alvo. Medidas preventivas e mitigadoras de impactos devem ser implementadas para reduzir as capturas de espécies-não alvo. O conhecimento empírico dos pescadores, somado í s atividades de educação ambiental, pode embasar o planejamento e o manejo participativo da pesca de Itacaré. Assim, a APM poderá ser implementada de forma efetiva, garantindo aos pescadores artesanais de Itacaré a sua sobrevivência na pesca.
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