Influência de diferentes tipos de margens na assembleia de peixes de um rio urbano
DOI:
https://doi.org/10.20950/10.20950/1678-2305/bip.2022.48.e651Palavras-chave:
composição taxonômica, distribuição espacial, diversidade, integridade do habitat; síndrome do rio urbano.Resumo
A presença ou ausência de uma espécie de peixe que vive em rios urbanos pode estar associada í s características físicas e químicas da água, além do estado de preservação da zona ripária. O presente estudo verificou se a composição taxonômica de peixes de um rio urbano varia em três condições de preservação da zona ripária: preservada, preservação intermediária e degradada. Seis trechos urbanos do rio Sorocaba, localizado no estado de São Paulo, foram selecionados para este estudo, com coletas mensais de junho de 2019 a fevereiro de 2020 com auxílio de peneira, puçá e rede de arrasto. Com relação aos tipos de margens e í s variáveis ambientais, a análise de componentes principais explicou 97,49% da variação dos dados. O eixo 1, que explicou 91,85% da variação total, foi formado pelas variáveis condutividade e total de sólidos dissolvidos. O eixo 2, que explicou 5,64% da variação, foi formado pelo percentual das variáveis raios solares e assoreamento, revelando-se inversamente proporcional ao de mata ripária. Para a ictiofauna, foram amostrados 50.983 indivíduos compreendidos em cinco ordens, oito famílias e 12 espécies. Cyprinodontiformes apresentou maior abundí¢ncia, com 96,96% do total de indivíduos, seguida de siluriformes (2,39%); a soma das demais ordens não atingiu 1% do total coletado. De acordo com cada tipo de margem, foi possível registrar 11.592 indivíduos para a margem A preservada, com a s=8 espécies, das quais duas foram exclusivas (C. flaveolus e H. littorale) e três exóticas (C. rendalli, P. ambrosettii e P. reticulata), sendo esta última dominante em todos os tipos de margens. Para a margem B intermediária, foram amostrados 19.645 indivíduos, com S=5 espécies, dos quais nenhum representante de espécie exclusiva, apenas espécies exóticas e nativas mais tolerantes, como H. malabaricus e H. ancistroides. Já para margem C degradada, foram registrados 19.746 exemplares, maior número de espécies (s=10), três delas exclusivas desse tipo de margem (P. fasciatus, R. quelen e G. brasiliensis). A comparação par a par (porcentagem similar) mostrou que a estrutura da assembleia se apresentou distinta para os tipos de margens. A análise de correspondência canônica explicou 92,46% da variação total dos dados, evidenciando a relação das espécies com os dados ambientais. Torna-se evidente a importí¢ncia da preservação dos micro-hábitats ainda presentes nas margens amostradas, visto que diferentes pressões antrópicas causam grande perda de diversidade, sobretudo para espécies nativas e espécies mais sensíveis a essas alterações.
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