Aspecto estrutural e social da pesca artesanal na planí­­cie de inundação do Alto Rio Paraná

Autores

  • Adriana Rosa Carvalho Universidade Estadual de Goiás - UEG. Laboratório de Biodiversidade do Cerrado

Palavras-chave:

pesca artesanal, planí­­cie de inundação do alto Rio Paraná, estrutura de pesca, levantamento socioeconômico, hábitos de pesca

Resumo

Este trabalho descreve aspectos estruturais e sociais dos pescadores da planí­­cie de inundação do alto Rio Paraná, localizada entre os reservatórios de Porto Primavera e Itaipu (PR) e circundada por 26 hidrelétricas a montante, que controlam a inundação e têm efeito deletério na reprodução dos peixes e inevitavelmente sobre a pesca local. Os dados foram coletados em 1999 e 2000 através de entrevistas pessoais conduzidas nos municí­­pios de Porto Rico-PRI e Porto São José-PSJ, distantes 14 km pelo rio. Os resultados mostram uma estrutura e hábitos de pesca distintos nas comunidades, confirmando a heterogeneidade da atividade. O consumo de peixe é baixo e a pesca não é ensinada aos filhos de pescadores. Embora geralmente usem a mesma isca (morenita ou tuvira í  Gymnotus carapo), em PSJ os pescadores desenvolveram um equipamento (a cevadeira) para atrair os peixes com soja e milho fermentados. As espécies mais atraí­­das por esta ceva são: armado (Pterodoras granulosus), barbado (Pinirampus pirinampu), dourado (Salminus brasiliensis), pacu (Piaractus mesopotamicus), piapara (Leporinus elongatus), piracanjuba (Brycon orbignyanus) e mandi (Pimelodus maculatus e Iheringichthys labrosus). Em PRI os pescadores capturam principalmente armado (Pterodoras granulosus), curimba (Prochilodus lineatus), barbado (Pinirampus pirinampu) e dourado (Salminus brasiliensis). Atualmente, a pesca e a cultura dela proveniente são tradições ameaçadas na planí­­cie de inundação do alto Rio Paraná, devido í­Â  frágil organização social agravada pelo analfabetismo, aos incentivos ao turismo e pesca esportiva de forma excludente, e í­Â  intensa modificação dos ecossistemas que impõe ajustes nos hábitos de pesca e na população de peixes.

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Publicado

2018-07-03

Edição

Seção

Artigo cientí­fico