IMPACTOS DA MARICULTURA SOBRE A ICTIOFAUNA BENTÔNICA DA BAÍA DO ITAGUÁ, UBATUBA, SUDESTE DO BRASIL

Autores

  • Vanessa Villanova Kuhnen Instituto de Pesca, Programa de Pós-graduação em Aquicultura e Pesca,
  • Leticia de Góis Costa Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Agricultura e Abastecimento, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -  APTA, Instituto de Pesca, Laboratório de Piscicultura Marinha
  • Kleper de Lima Raiol Instituto de Pesca, Programa de Pós-graduação em Aquicultura e Pesca
  • Otávio Mesquita de Sousa Instituto de Pesca, Programa de Pós-graduação em Aquicultura e Pesca
  • Eduardo Gomes Sanches Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Agricultura e Abastecimento, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -  APTA, Instituto de Pesca, Laboratório de Piscicultura Marinha,

DOI:

https://doi.org/10.20950/1678-2305.2019.45.4.500

Palavras-chave:

environmental protection area, covo, Kappaphycus alvarezii, mariculture, Perna perna

Resumo

Com o declí­­nio dos estoques pesqueiros a aquicultura vem se desenvolvendo em todo o mundo. Considerando os possí­­veis conflitos existentes entre atividades produtivas e áreas de preservação ambiental, este estudo teve como objetivo avaliar o efeito da maricultura sobre a ictiofauna local da Baí­­a do Itaguá em Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil, que está dentro da Área de Proteção Ambiental Marinha Litoral Norte. Para isto a comunidade de peixes foi avaliada em áreas com cultivo de mexilhões, macroalgas marinhas e áreas sem atividade de maricultura. Após seis meses de coleta foram capturados 230 indiví­­duos, de 19 espécies e 15 famí­­lias. Não houve diferença na capturabilidade, riqueza, diversidade e equitabilidade entre as áreas. Entretanto, a composição das espécies da área com mexilhões foi distinta das demais. A área com mexilhões também apresentou quase o dobro de biomassa de peixes que o obtido nas demais áreas. Com base em nossos resultados podemos observar que a alteração ambiental gerada pelo cultivo de mexilhões é uma fonte de complexidade de habitat capaz de agregar a fauna marinha da região. Dessa forma, concluí­­mos que a maricultura, em especial a mitilicultura, exerce um impacto positivo sobre a ictiofauna, podendo contribuir para a manutenção da biodiversidade nas áreas de preservação ambiental..

Referências

Andrade, G.J.P.O. 2016. Maricultura em Santa Catarina: a cadeia produtiva gerada pelo esforço coordenado de pesquisa, extensão e desenvolvimento tecnológico. Revista Eletrônica de Extensão, 13(24): 204-217. http://dx.doi.org/10.5007/1807-0221.2016v13n24p204.

Barbanti, B.; Caires, R.; Marceniuk, A.P. 2013. A ictiofauna do Canal de Bertioga, São Paulo, Brasil. Biota Neotropica, 13(1): 276-290. http://dx.doi.org/10.1590/S1676-06032013000100027.

Barbieri, E.; Marquez, H.L.A.; Campolim, M.B.; Salvarani, P.I. 2014. Avaliação dos Impactos ambientais e socioeconômicos da aquicultura na região estuarina-lagunar de Cananéia, São Paulo, Brasil. Revista da Gestão Costeira Integrada, 13(3): 385-398. http://dx.doi.org/10.5894/rgci486.

Bergman, K.C.; Svensson, S.; Ohman, M.C. 2001. Influence of algal farming on fish assemblages. Marine Pollution Bulletin, 42(12): 1379-1389. http://dx.doi.org/10.1016/S0025-326X(01)00168-0. PMid:11827126.

Bernardes, R.A.; Rossi-Wongtschowski, C.L.D.B.; Wahrlich, R.; Vieira, R.C.; Santos, A.P.; Rodrigues, A.R. 2005. Prospecção pesqueira de recursos demersais com armadilhas e pargueiras na zona econômica exclusiva da região Sudeste-Sul do Brasil. São Paulo: Série Documentos Revizee. 112p.

Brasil, 2008. Decreto no 53.525, de 08 de outubro de 2008. Cria a área de proteção ambiental no litoral do estado de São Paulo. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, 08 de outubro de 2008, nº 184, Seção 1, p.59.

Brasil, 2015. Plano de desenvolvimento da aquicultura brasileira 2015/2020. Brasí­­lia: Ministério da Pesca e Aquicultura. Disponí­­vel em: <http://seafoodbrasil.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Plano_de_Desenvolvimento_da_Aquicultura-2015-2020.pdf> Acesso em: 07 jan. 2019.

Carvalho, F.L.; Couto, E.C.G. 2011. Environmental variables influencing the Callinectes (Crustacea, Brachyura, Portunidae) species distribution in a tropical estuary - Cachoeira River (Bahia, Brazil). Journal of the Marine Biological Association of the United Kington, 91(4): 793-800. http://dx.doi.org/10.1017/S0025315410001700.

Castelar, B.; Reis, R.P.; Bastos, M. 2009. Contribuição ao protocolo de monitoramento ambiental da maricultura de Kappaphycus alvarezii (Doty) Doty ex. P.C. Silva (Aeshcougiaceae í  Rhodophyta) na baí­­a de Sepetiba, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasí­­lica, 23(3): 613-617. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33062009000300001.

Castro Filho, B.M.; Miranda, L.B.; Miyao, S.Y. 1987. Condições hidrográficas na plataforma continental ao largo de Ubatuba: variações sazonais e em média escala. Boletim do Instituto Oceanográfico, 35(2): 135-151. http://dx.doi.org/10.1590/S0373-55241987000200004.

Castro, R.M.C.; Menezes, N.A. 1998. Estudo diagnostico da diversidade de peixes do estado de São Paulo. In: Castro, R.M.C. Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: sí­­ntese do conhecimento ao final do século XX, 6: vertebrados. São Paulo: WinnerGraph. p. 1-13.

Christensen, V.; Coll, M.; Piroddi, C.; Steenbeek, J.; Buszowski, J.; Pauly, D. 2014. A century of fish biomass decline in the ocean. Marine Ecology Progress Series, 512(1): 155-166. http://dx.doi.org/10.3354/meps10946.

Clarke, K.R.; Warwick, R.M. 2001 Change in marine communities: an approach to statistical analysis and interpretation. Plymouth: PRIMER-E Ltd. 172p.

Claro, R.; Lindeman, K.C. 2008. Biologí­­a y manejo de los pargos (Lutjanidae) en el Atlántico occidental. Havana: Instituto de Oceanologí­­a/CITMA. 472p.

Colwell, R.K.; Mao, C.X.; Chang, J. 2004. Interpolating, extrapolating, and comparing incidence-based species accumulation curves. Ecology, 85(10): 2717-2727. http://dx.doi.org/10.1890/03-0557.

Costa, K.G.; Nalesso, R.C. 2006. Effects of mussel farming on macrobenthic community structure in Southeastern Brazil. Aquaculture (Amsterdam, Netherlands), 258(1): 665-663. http://dx.doi.org/10.1016/j.aquaculture.2006.04.023.

Danovaro, R.; Gambi, C.; Luna, G.M.; Mirto, S. 2004. Sustainable impact of mussel farming in the Adriatic Sea (Mediterranean Sea): evidence from biochemical, microbial and meiofaunal indicators. Marine Pollution Bulletin, 49(4): 325-333. http://dx.doi.org/10.1016/j.marpolbul.2004.02.038. PMid:15341827.

FAO í  Food and Agriculture Organization of the United Nation. 2016. The state of world fisheries and aquaculture. Rome: FAO. 200p. Disponí­­vel em: <http://www.fao.org/3/a-i5555e.pdf> Acesso em: 7 jan. 2019.

Ferreira, J.F.; Magalhães, A.R.M. 2004. Cultivo de mexilhões. In: Poli, C.R.; Poli, A.T.B.; Andreatta, E.; Beltrame, E. Aquicultura - experiências brasileiras. Florianópolis: Multitarefa. p. 221-250.

Figueiredo, J.L.; Menezes, N.A. 2000. Manual de peixes marinhos do Sudeste do Brasil. VI. Teleostei. São Paulo: Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. 116p.

Fontes, C.F.L.; Guerra, A.J.T. 2016. Conflitos socioambientais na APA de Cairuçu (Paraty-RJ) í­Â  luz da sobreposição com unidades de conservação de diferentes categorias. Geousp í  Espaço e Tempo, 20(1): 178-193.

Freitas, M.O.; Velastin, R. 2010. Ictiofauna associada a um cultivo de mexilhão Perna perna (Linnaeus, 1758) norte Catarinense, sul do Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences, 32(1): 31-37. http://dx.doi.org/10.4025/actascibiolsci.v32i1.2515.

Gotelli, N.J.; Ellison, A.M. 2011. Princí­­pios de estatí­­stica em ecologia. Porto Alegre: Artmed. 527p.

IBGE í  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatí­­stica. 2015. SIDRA í  Produção da pecuária municipal/Sistema IBGE de recuperação automática. Disponí­­vel em <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3940#resultado> Acesso em: 23 jun. 2017.

Jennings, S.; Greenstreet, S.P.R.; Reynolds, J.D. 1999. Structural change in an exploited fish community: a consequence of differential fishing effects on species with contrasting life histories. Journal of Animal Ecology, 68(3): 617-627. http://dx.doi.org/10.1046/j.1365-2656.1999.00312.x.

Johnson, D.W. 2007. Habitat complexity modifies post-settlement mortality and recruitment dynamics of a marine fish. Ecology, 88(7): 1716-1725. http://dx.doi.org/10.1890/06-0591.1. PMid:17645018.

Kaiser, M.J.; Laing, I.; Utting, S.D.; Burnell, G.M. 1998. Environmental impacts of bivalve mariculture. Journal of Shellfish Research, 17(1): 59-66.

Khalaman, V.V. 2001. Fouling communities of mussel aquaculture installations in the White Sea. Russian Journal of Marine Biology, 27(4): 227-237. http://dx.doi.org/10.1023/A:1011963303073.

Kushlan, S.A. 1981. Sampling characteristics of enclosure fish traps. Transactions of the American Fisheries Society, 110(4): 557-562. http://dx.doi.org/10.1577/1548-8659(1981)110<557:SCOEFT>2.0.CO;2.

López-Jamar, E.; Iglesias, J.; Otero, J.J. 1984. Contribution of infauna and mussel-raft epifauna to demersal fish diets. Marine Ecology Progress Series, 15(1): 13-18. http://dx.doi.org/10.3354/meps015013.

Magurran, A.E. 2004. Measuring biological diversity. Oxford: Blackwell Publishing. 256p.

Magurran, A.E.; Henderson, P.A. 2003. Explaining the excess of rare species in natural species abundance distributions. Nature, 422(6933): 714-716. http://dx.doi.org/10.1038/nature01547. PMid:12700760.

Mahiques, M.M. 1995. Diní­¢mica sedimentar atual nas enseadas da região de Ubatuba, Estado de São Paulo. Boletim do Instituto Oceanográfico, S43(2): 111-122. http://dx.doi.org/10.1590/S0373-55241995000200003.

Mantelatto, F.L.; Fransozo, A. 1999. Characterization of the physical and chemical parameters of Ubatuba Bay, northern coast of São Paulo State, Brazil. Revista Brasileira de Biologia, 59(1): 23-31. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71081999000100004.

Mckindsey, C.W.; Anderson, N.M.R.; Barnes, P.; Courtenay, S.; Landry, T.; Skinner, M. 2006. Effects of shellfish aquaculture on fish habitat: canadian science advisory secretariat research document 2006/011. Canada: Fisheries and Oceans. 84p. Disponí­­vel em: <http://waves-vagues.dfo-mpo.gc.ca/Library/323203.pdf> Acesso em: 07 jan. 2019.

Ostrensky, A.; Borghetti, J.R.; Soto, D. 2008. Aquicultura no Brasil: o desafio é crescer. Brasí­­lia: Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República. 276p.

Paula, E.J.; Pereira, R.T.L.; Ohno, M. 2002. Growth rate of the carrageenophyte Kappaphycus alvarezii (Rhodophyta, Gigartinales) introduced in subtropical waters of São Paulo State, Brazil. Phycological Research, 50(1): 1-9. http://dx.doi.org/10.1111/j.1440-1835.2002.tb00130.x.

Pereira, L.A.; Rocha, R.M. 2015. A maricultura e as bases econômicas, social e ambiental que determinam seu desenvolvimento e sustentabilidade. Ambiente & Sociedade, 18(3): 41-52. http://dx.doi.org/10.1590/1809-4422ASOC622V1832015.

Petersen, J.K.; Hasler, B.; Timmermann, K.; Nielsen, P.; Torring, D.B.; Larsen, M.M.; Holmer, M. 2014. Mussels as a tool for mitigation of nutrients in the marine environment. Marine Pollution Bulletin, 82(1-2): 137-143. http://dx.doi.org/10.1016/j.marpolbul.2014.03.006. PMid:24673831.

Possamai, B.; Rosa, L.C.; Corrêa, M.F.M. 2014. Seletividade de armadilhas e atrativos na captura de pequenos peixes e crustáceos em ambientes estuarinos. Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, 18(2): 11-17. http://dx.doi.org/10.14210/bjast.v18n2.p11-17.

Robichaud, D.; Hunte, W.; Chapman, M.R. 2000. Factors affecting the catchability of reef fi shes in Antillean fi sh traps. Bulletin of Marine Science, 67(2): 831-844.

Rocha, A.J.S.; Gomes, V.; Ngan, P.V.; Passos, M.J.A.C.R. 2003. Variações na demanda de energia metabólica de juvenis de Haemulon steindachneri (Perciformes, Haemulidae) em função da temperatura. Revista Brasileira de Oceanografia, 49(1): 87-97.

Rocha, G.R.A.; Rossi-Wongtschowski, C.L.D.B. 1998. Demersal fish community on the inner shelf of Ubatuba, southeastern Brazil. Revista Brasileira de Oceanografia, 46(2): 93-109. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-77391998000200001.

Rocha, I.; Rodrigues, J.A. 2015. Aquicultura e a oferta mundial de proteí­­nas de origem animal. Disponí­­vel em <http://abccam.com.br/site/a-aquicultura-e-a-oferta-mundial-de-proteinas-de-origem-animal/> Acesso em: 23 junho 2017.

Sanches, E.G.; Kuhnen, V.V. 2016. Quantos peixes tem no mar? Aquaculture Brasil, 2: 20-25.

Sanches, E.G.; Sebastiani, E.F. 2009. Atratores e tempos de submersão na pesca artesanal com armadilhas. Biotemas, 22(4): 199-206. http://dx.doi.org/10.5007/2175-7925.2009v22n4p199.

Sethi, S.A.; Branch, T.A.; Watson, R. 2010. Global fishery development patterns are driven by profit but not trophic level. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 107(27): 12163-12167. http://dx.doi.org/10.1073/pnas.1003236107. PMid:20566867.

Shin, Y.J.; Rochet, M.J.; Jennings, S.; Field, J.G.; Gislason, H. 2005. Using size-based indicators to evaluate the ecosystem effects of fishing. ICES Journal of Marine Science, 62(3): 384-396. http://dx.doi.org/10.1016/j.icesjms.2005.01.004.

Souza-Conceição, J.M.; Castro-Silva, M.A.; Huergo, G.P.C.M.; Guilherme, S.; Soares, G.S.; Marenzi, A.C.; Manzoni, G.C. 2003. Associação da ictiofauna capturada através de rede de emalhe com o cultivo de mexilhões da enseada de armação do Itapocoroy, em Penha (Santa Catarina - Brasil). Boletim do Instituto de Pesca, 29(2): 117-121.

Teixeira, R.R.; Couto, E.C.G. 2012. Crustacea Decapoda capturados através de coleta passiva em um trecho do Rio dos Mangues (Porto Seguro í  BA). Biotemas, 25(4): 149-156. http://dx.doi.org/10.5007/2175-7925.2012v25n4p149.

Tureck, C.R.; Oliveira, T.N. 2003. Sustentabilidade ambiental e maricultura. Revista Saúde e Ambiente, 4(2): 22-26.
Vianna, M.; Valentini, H. 2004. Observações sobre a frota pesqueira em Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo, entre 1995 e 1996. Boletim do Instituto de Pesca, 30(2): 171-176.

Yong, Y.S.; Yong, W.T.L.; Ng, S.E.; Anton, A.; Yassir, S. 2015. Chemical composition of farmed and micropropagated Kappaphycus alvarezii (Rohodophyta, Gigartinales) a commercially important seaweed in Malaysia. Journal of Applied Phicology, 27(3): 1271-1275. http://dx.doi.org/10.1007/s10811-014-0398-z.

Downloads

Publicado

2019-12-03

Edição

Seção

Nota cientí­­fica (Short Communication)

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

1 2 > >>