Potencial invasor dos peixes não nativos cultivados na região costeira do Rio Grande do Sul, Brasil

Autores

  • Débora Fernanda Avila TROCA Universidade Federal do Rio Grande -  FURG. Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Biológica.
  • João Paes VIEIRA Universidade Federal do Rio Grande -  FURG. Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Biológica.

Palavras-chave:

aquicultura, avaliação de risco, FISK, invasí­µes biológicas, Lagoa dos Patos

Resumo

No Brasil, o cultivo de peixes de água doce é baseado em poucas espécies, a maioria, introduzida de outros paí­­ses ou continentes. Quando uma espécie é introduzida no ecossistema existe o risco de ela escapar para o ambiente natural, resultando em possí­­veis efeitos prejudiciais í­Â  biota nativa ou até mesmo ao funcionamento do ecossistema. A fim de fundamentar as decisões dos gestores públicos sobre quais espécies seriam adequadas ao uso em aquicultura na região costeira do RS, este estudo classificou o potencial invasor das espécies não nativas de peixes cultivadas na região. A lista de espécies presentes nos cultivos foi obtida por meio de pesquisa bibliográfica e consulta a órgãos de extensão agropecuária ou instituições que prestam assistência técnica ou que atuam como intermediários na aquisição de alevinos. O protocolo Fish Invasiveness Screening Kit í  FISK foi aplicado para classificar as espécies não nativas de acordo com o seu potencial invasor. Dez espécies não nativas são cultivadas na região. Ctenopharyngodon idella, Cyprinus carpio, Hypophthalmichthys molitrix, H. nobilis, Ictalurus punctatus e Oreochromis niloticus apresentaram alto potencial invasor (pontuação entre 22 e 38), enquanto Pseudoplatystoma fasciatum, P. corruscans, Piaractus mesopotamicus e Hoplias lacerdae apresentaram médio potencial invasor (pontuação entre 9 e 15). As espécies com alto potencial invasor devem compor uma lista "negra†e ter seu uso proibido. Para as espécies com médio potencial invasor devem ser aplicados estudos complementares para determinar a proibição ou não de seu uso na aquicultura da região da Lagoa dos Patos.

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Publicado

2018-11-10

Edição

Seção

Artigo cientí­fico